Ração
de Ego
Nada mais que uma matilha de chacais
a pretensa sociedade atual. Não há lealdade maior que o interesse nem
sensibilidade maior que o ego.
Sôfrega trôpega, a
honra balbucia cânticos semi esquecidos de esperança ao pó da terra
amaldiçoada, e seus ecos são delicadamente oferecidos de volta embrulhados em
falácias, com mais um anzol a perfurar a boca ímpia que escorre de iras caladas
por tristes frustrações...
Mas não é a miragem que esmorece o beduíno, pois que é feita de ilusão,
e não sólida e eterna como meu caráter. E caiam como trigo os espíritos
detritos envoltos em corpos vistosos e meneantes olhares magnéticos; não
perderá em mil mortes o fio da espada de minha dignidade!
Aos que têm fome de
vaidade, ofereço-me a devorar, embora não seja eu ração de seu ego, mas é
infinita a generosidade da fonte da completude de onde alimento a vaidade te
enchendo de mais e mais vazios.
A fome eterna dos vivos-mortos, reais em corpos e mentes procuram almas,
pois da sua perdida, vendida por imagens, o sustentáculo do digno, caráter,
ética, honra, da verdade, lealdade, honestidade, clareza, do íntegro,
verdadeiro, transparente, generoso, construtivo, prestimoso, do mútuo, aliado,
da empatia; veio a beleza da imagem em fantasia, ladeada por mentiras douradas,
toda sorte de brilhantes orgulhos e jóias estereótipas... Feitos de vazios, têm
fome de aprender em uma língua que já não compreendem, não podem agarrar o que
desejam obter com suas mãos tão afeitas a acariciar que não mais são capazes de
amparar, olhos pidões que vêem aparências mas não expressões, embora distinguam
entre brilhos de pedras preciosas e lágrimas, observam sem enxergar, desejam
sem mais saber querer um sentir que não cabe mais em um coração que já não
bate, negocia...
O irmão ao seu lado está em pé, mas entremeia o olhar paralelo ao seu,
mirando um mesmo horizonte em destino, com furtivos olhares perpendiculares a
vigiar-te... A mão que pede clemência oferecendo espinhos de curare te chama a
brindar com cicuta por tua própria desgraça regada a lágrimas sem sal ou
sentimento, mas com objetivos...
Onde estarão os bravos do punho cerrado e dos fios do bigode e da
navalha? Onde estarão as filhas da Lua de sentimentos, planos e esperanças?
Onde estarão os astros que todos já me parecem cadentes onde não sei mais o que
é universo e o que é soberba?
Ainda serei eu o maior
e último dos idiotas, e nunca haverá uma decadente humanidade que não tenha
provado o gosto da minha integridade e ficado em pé. Matarei a todos sem
crueldade, pois que morrerão no cáustico horror do reflexo em espelho de
Medusa.
E será divindade o que
terei, ainda que sozinho, se esta for minha sina; mas não me renderei ao senso
comum de devorarem-se as carniças.
Do suor, vinho; do pó da estrada, gozo; das ilusões, possibilidades; do
impossível, arte.
E deuses, sigam suas
naturezas e dêem-me o que acharem por bem. Não lhes dirijo apelos ou lamentos;
troçando ou testando, desaprovo esse meio, pois íntegro os segrego lugares ao
meu lado. Acima de mim, só o céu infinito.
Dario Pendragon