sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sobre o “discurso vazio”...

Antes de iniciar esta despretensiosa reflexão, sempre cabe salientar que NÃO se trata de um recado indireto aos companheiros de blog ou comunais da “IéA”, que minha intenção seja expressar meu ponto de vista e, eventualmente, debater o tema...
Há tempos me incomoda profundamente o que denomino “discurso vazio”.
Este tipo de discurso é conhecido por todos nós: em síntese, consiste na teoria desvinculada da prática; na falta de coerência entre a defesa das ideias, valores e concepções; em uma vida que segue na contramão destas defesas ideológicas, sendo observado, preponderantemente, na defesa da moral, da ética ou no discurso religioso.
Naturalmente, NÃO estou insinuando que TODO o discurso moral seja destituído de correspondência prática, contudo, francamente, observo que, ao menos em nossos dias, esta situação possa ser observada na esmagadora maioria dos casos.
Tal constatação levou-me a adotar uma atitude de “descrença” em relação a quase todo o tipo de discurso moralizante.
É bem verdade que, eventualmente, tais discursos produzam os efeitos pretendidos, mormente quando o ouvinte (leitor, etc...) desconheça a hipocrisia (ainda que involuntária) do defensor da moral e do “bom-mocismo”.
Bem sei, também, que alguns argumentarão que tais discursos e “admoestações” sejam bem intencionados, que nossa imperfeição seja constitutiva, que a ética e a moral sejam ideais a serem perseguidos, e, por este motivo, não careçam de correspondência prática; contudo, ao descobrir a falta de coerência entre a pregação da virtude e a vida virtuosa, restará ao ouvinte/leitor outro efeito senão a desesperança, o ceticismo ou a reprodução da hipocrisia?
Em resumo, concluo que apenas uma vida virtuosa e ética possa sustentar a pregação destes valores elevados e que as lições de vida eficientes tem origem no exemplo de conduta e não nestes discursos destituídos de concretude fática.

7 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Sim, Harry. Tal discurso vazio é muito comum principalmente na área educacional. Prometem e lançam mil e um projetos mirabolantes,cheios de boas intenções, mas que só resultam na mesmice, no retrocesso, na estagnação. Como dizem por aí, o papel aceita tudo. Nele, é tudo perfeito,colorido. Concretizar o que foi colocado nele que é o problema. Lamentável!!

    ResponderExcluir
  3. rs... Pois é, Jackie ...

    Penso que eu esteja tão desesperançado com o discurso político, rs, que o tenha esquecido ...

    Mas é fato, temos, igualmente, lamentáveis e majoritários exemplos de discurso vazio nos palanques...

    Minha conclusão é a mesma: não posso respeitar um discurso, por mais bem intencionado que seja, destituído de prática...

    ResponderExcluir
  4. É lamentavelmente comum encontrar as ações discordando dos discursos. Isto em qualquer esfera, mas no que tange ao meu ofício devo lamentar junto à Jackie e cada dia mais.

    ResponderExcluir
  5. Caríssimo confrade, permit-me desunanimizar o tema? rs
    Talvez observando o tema por uma ótica mais abrangente que a pretendida (não sei bem...), mas concordo e confluo em julgamentos quanto a tal crivo, porém tendo como réu o sujeito. Sim, díspares entre palavra e gesto são disparates em carne merecedores do meu divertimento, desprezo o violência.
    Mas crê que o conceito tem algo que o faça não ser livre ? O filósofo é só objeto percebente de uma natureza naturante, creio; não me parece que tem qualquer relação de julgamento para com o pensamento quando este forma idéia vagante já não mais inerente ao autor.
    Diz um antigo axioma místico: "A palavra do Mestre pode vir da boca de um bêbado."

    ResponderExcluir
  6. Caro Irmão Bárbaro, “Elen síla lúmenn' omentielvo”...

    É um prazer “vê-lo” por aqui...

    Como sempre, rs, tuas considerações herméticas deixam-me sem ação... rs...

    Perdido que esteja, começo pela literalidade de teu provérbio final, para, rs, a seguir, aprofundar-me, um pouquinho, sobre divagações cósmicas... rs...

    Há uma passagem singular, talvez “humana, demasiado humana”, num dos livros (Sidarta) de Hermann Hesse, onde Sidarta pondera sobre estados meditativos e a embriaguês e ponderando se a sabedoria poderia surgir deste peculiar estado de espírito:

    “— O que é a meditação? O que, o abandono do corpo? Que significa o jejum? E a suspensão do fôlego? São modos de fugirmos de nós mesmos. São momentos durante os quais o homem escapa à tortura de seu eu. Fazem-nos esquecer, passa ligeiramente, o sofrimento e a insensatez da vida. A mesma fuga, o mesmíssimo esquecimento, o boiadeiro encontra-os na estalagem, quando bebe algumas tigelas de vinho de arroz ou de leite de coco fermentado. Então cessa de sentir o seu eu, cessa de padecer dores, anestesia-se por algum tempo. Ao adormecer, junto à tigela de vinho de arroz, consegue o mesmo efeito que provocam Sidarta e Govinda, cada vez que, depois de prolongados exercícios, se distanciam de seus corpos, a fim de entrarem no não eu. Realmente, é assim, Govinda!”

    Talvez seja assim... Talvez certos estados alterados da consciência nos permitam pequenas (ou grandes) revelações de nosso mestre interior... rs... Não que eu esteja colocando todos os gatos nos mesmo saco, rs, mas, vez por outra, fico a cismar sobre os processos alquímicos de extração da alma (fermentação, destilação, maceramento, cozimento, etc...) de substâncias naturais (por ex. a ayahuasca, o botão do peiote, a datura; e por que não dizer dos cereais, rs)...

    Sintetizando esta pequena “viajem”, sim acredito que a palavra do mestre possa vir da boca de um bêbado... Na verdade, creio que a palavra do mestre (inclusive, e principalmente, de nosso mestre interior) possa vir do contato com qualquer “ser”: o lobo, a planta, a pedra e, inclusive, o néscio)... Deus se manifesta de/em formas estranhas...

    Assim, rs, admito, que o Irmão tenha me armado uma “cama de gato”, mas, nem tanto, pois, multifacetado que sou, rs, admito que uma parte deste ser permite-se a ausência de respeito pelo discurso desprovido da concretude fática, enquanto a outra vê (ouve, sente) a “palavra do mestre” em todos os seres e lugares ...

    Tenha uma vida feliz, “filho de Ποσειδῶν”

    ResponderExcluir
  7. Olá, Mariana...

    Sinto que tua presença irá nos brindar com os delicados odores da literatura...

    Bj. do Lobo...

    ResponderExcluir